Superar os outros é ridículo

São muitos ainda os que acham que ter uma carinha bonita e o bolso cheio de dinheiro é um favor que o mundo deve suportar. Apesar de sermos diferentes fisicamente e em certas habilidades, o que nos dá a singularidade? Aleijadinho era uma pessoa fisicamente debilitada e pôde produzir obras de arte que qualquer malhado de academia de ginástica levaria séculos para fazer algo cem vezes pior. O que pode um homem fazer que uma mulher não pode? Ou qual é a diferença entre um homem formado em nível superior e um cobrador de ônibus? Até onde eu sei, a única vantagem são certos privilégios para o graduado perante a Justiça, caso venham ambos cometer algum crime. Hoje em dia, as pessoas se definem não pelo caráter ou personalidade, mas pelas suas posses: um computador novo, um peito grande, um carro bem bonito ou até mesmo títulos. Somos todos medíocres, não existe ninguém no topo nem na fossa, estamos todos debaixo do mesmo sol, nas mesmas condições. Estranhamente também nos definimos em patamares superiores em relação aos outros por conquistas ligadas ao controle do “eu” como: “eu não fumo, faço exercícios, não tenho fantasias sexuais e por isto, sou melhor, mais evoluído do que meu colega de trabalho que é gordo, fuma dois maços de cigarro por dia e trepa sem parar”. Não importa o que venhamos a fazer, nada poderá servir de parâmetros para nos hierarquizarmos perante nossos irmãos. Não que as diferenças sejam inexistentes, mas superar os outros é ridículo quando o que nos cabe é superarmos a nós mesmos incessantemente.”
Fonte:  A Fé e a Razão de Solano Jacob

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